domingo, 11 de agosto de 2019

Muitos pais que o Pai nos deu


Quem de nós nesta vida não é fruto de uma união? Fomos concebidos após uma elaborada composição cósmica, filhos de pais que escolheram nos receber como seus descendentes. Alguns muitas vezes não reconhecem esta decisão e perdem-se no mundo, legando ao esquecimento promessas de amor e reconciliação. Quantas oportunidades acabam por se perder. Porém, todos nós, sem exceção somos filhos de um mesmo Pai.

Muitas vezes por nos encontrarmos sem pai ou mãe, nos revoltamos, sentimo-nos desamparados, a mercê da própria sorte. Porém, jamais devemos esquecer que existem leis universais, leis de Deus que regem a harmonia de nossas vidas. Toda ação pressupõe uma reação, isto é lei, é física, é algo concreto.

Lucas foi o primogênito de três irmãos. Nasceram em uma família pobre e passavam por várias restrições. A Mãe professora trabalhava muito. Quantas não foram às vezes que saia antes do sol nascer e voltava para casa já tarde, quando as crianças já dormiam. Estas eram cuidadas por domésticas que se dispunham a trabalhar naquele domicílio. O pai parava pouco em casa, quando passeava como os filhos, era parando em todos os bares que encontrava, sempre alegando encontrar um amigo. Quantas não foram às vezes que os meninos ficavam dentro do carro esperando, esperando, até que a espera se tornava grande e acabavam por adormecer. Presenciaram brigas violentas de seu pai com desconhecidos, viram-no embriagado, ouviam mentiras e promessas que nunca se realizavam. Certa feita, Lucas do muro de sua casa ouviu sua mãe ao telefone falando com seu pai, pedindo-lhe que não retornasse para casa, pois a polícia o esperava. Do alto de sua vaidade e arrogância, o pai alegou serem seus amigos. Assim voltou para casa e foi preso como estelionatário.
Lucas e os irmãos cresciam solitários, envoltos por um mundo de fantasias particulares, sem pai para brincar de "pega-pega", empinar "pipa", jogar "bolinha de gude". Cresciam a sombra um do outro e da mãe protetora, rígida, severa, porém amorosa. Oferecendo-lhes o que podia e mesmo assim, muito mais do que recebera.
A triste lembrança que os marcou profundamente foi, às visitas que faziam ao pai na penitenciária. Algo que jamais esqueceram. Assim seguiram, pois, a vida não para. A mãe separou-se de seu pai quando ele ainda se encontrava preso. Não suportava tantos sofrimentos, ver seus filhos crescerem sem a proteção efetiva de um pai. Proteção que não se estabeleceu mesmo depois de ter saído da detenção.
Aos quinze anos Lucas viu seu pai morrer em decorrência do consumo excessivo de substâncias alcoólicas e cigarro, consumido por uma cirrose hepática. Naqueles dias, viu-se sozinho de fato, revoltou-se, pois no momento mais importante para um adolescente perdeu o que seria um referencial. Rebelou-se, vestiu-se de preto, deixou o cabelo crescer, bebeu, fumou, parou de estudar. Contudo, a todo o momento em sua intimidade uma voz manifestava-se, alertando-o, lembrando-lhe de seu compromisso.
Anos passaram-se até quando sua mãe descobriu que estava com câncer de mama. O especialista do alto de sua prepotência profissional deu-lhe seis meses de vida. No entanto, a força daquela mulher e os méritos que ela colhera ao longo de sua vida, garantiram-lhe mais alguns anos de vida. Lucas na ocasião já voltara a estudar, voltando atenção para uma proposta maior. Quando criança, interrogado sobre sua futura profissão, afirmava que seria médico, pois médicos não morriam.
Dedicou-se ferrenhamente aos livros, apostilas, testes, simulados. Sua vida pessoal limitava-se ao curso preparatório, longas horas em sala de estudo e o retorno já tarde para casa. Tinha um compromisso com sua intimidade, uma promessa a ser cumprida. Tinha que entrar na faculdade antes que sua mãe morresse. Todos os dias a via definhando, consumida pelo tumor implacável, sucumbindo pela dor, sofreu muito. Mais tarde veio a descobrir que às doenças e sofrimentos gerados por elas, eram um remédio salutar para regeneração do espírito.
Finalmente entrou no curso de medicina e como sua voz interior o alertará, sua mãe teve seu desejo satisfeito. Partiu então para pátria espiritual feliz.
Mais uma vez Lucas viu-se só. Distante dos irmãos e poucos amigos, diante de um desafio desconhecido. Estudo muito, passou por várias dificuldades, dúvidas e tristezas, muito em função da falta de dinheiro, muito embora isso não fosse o maior motivo. Teve pouco apoio e não era muito bem compreendido por aqueles de seu convívio. 
Antes de completar o curso casou-se, encontrando ali um elo forte, um porto seguro, um momento feliz. Formou-se e tornou-se um bom médico, dedicando-se principalmente a população desfavorecida. Hoje é pai, um bom pai.
Durante muitos anos Lucas sentia-se ferido pelo fato de não ter tido um pai a protegê-lo, a ampará-lo, a mostrar-lhe caminhos a seguir. Felizmente, passou a compreender que estes sentimentos eram tolos. Deus o pai maior, não lhe faltara um só momento de sua vida, não lhe dera um pai consanguíneo presente, porém, dera-lhe um pai que lhe deu a oportunidade de vir ao mundo e soletrar sua vitória sobre suas limitações. Deu-lhe uma mãe que foi um grande Pai. Deu-lhe professores que como pais seguraram suas mãos inseguras na hora da lição. Deu-lhe amigos que como pai indicaram-lhe caminhos, propostas e ideais. Deu-lhe um anjo protetor que como pai o assistiu, o alertou, o consolou e velou por seu sono.
Quando todas essas imagens vieram à superfície de sua mente, percebeu finalmente que Deus lhe dera os melhores pais que o mundo poderia oferecer. E que seu genitor errará, não cumprirá seu papel, contudo, qual de nós não erra? Não ofertou amor em abundância para os seus, talvez porque não aprendera a amar, ou jamais tenha se sentido amado. Naquele instante o perdoou, na verdade foi além, pois compreendeu que não havia o que perdoar, pois não mais se sentia ofendido ou abandonado. Elevou seu pensamento a Deus e orou para que o espírito de seu genitor recebesse a lição do amor, ministrado pelos bons anjos do grande Pai.

Gallieus Injo
Vulgo Jefferson Kleber Forti
Belo Horizonte, 03 agosto de 2007

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Reflexões sobre o sucesso


Reflexões sobre o sucesso 


Muitas reflexões a cerda do sucesso a vida nos trás. 

Mas o que é o sucesso? Muitos afirmarão que é ter muito dinheiro, somar um patrimônio soberbo, ir aonde ninguém chegou, conquistar o inconquistável, ser maior, ser melhor, sobrepor-se, ir além. Existe algo verdadeiro em todas essas afirmações, contudo, o sucesso insinua algo mais.

Devemos antes de qualquer coisa, partir da premissa, que o sucesso é algo volátil, expandindo-se como um gás invisível, inodoro e insípido. E com esse comportamento pode muitas vezes passar despercebido. O sucesso é adimensional e com essa característica deveras empírica, encontra-se mais na dimensão do subjetivo e da utopia.

Sucesso é felicidade! 
Talvez seja, mas quando nos deparamos com a certeza que a ``felicidade não é deste mundo``,

nos encontramos em um labirinto sem respostas. Mantendo-se então o pensamento no plano relativista, concluímos que a ideia de êxito está ligada a algo personificado, individual ou exclusivo.

O triunfo no fim das contas não está ligado a nada físico, daí a dificuldade para dimensioná-lo. Um ser humano dito bem sucedido pode ter tudo aos seus pés, todos os bens materiais que desejar, comprar a sua passagem exclusiva personal vip para Marte, e mesmo assim ser vazio. O dinheiro não pode tudo e assim não pode ser sinônimo de sucesso. 

O sucesso é conquista!

Isso sim é uma verdade bastante próxima de algo condizente com uma realidade concreta. Embora, muitas vezes a conquista não seja personalizada ou individual. Ela é bem alicerçada quando realizamos a edificação do sucesso com superação. Vemos muito isso no esporte, principalmente com o personagem que chega em último lugar na maratona e é ovacionado pela multidão.
O sucesso independe do ouro ou da prata. Mas depende do quão vocacionado e determinado o indivíduo está. O cume mais distante e íngreme, como meta, é seu marco final ou talvez a mola propulsora para um pico mais alto. Sucesso é o estado de espírito, que dá ao indivíduo o antídoto e motivação para ir além.

Ter sucesso é reconhecer que a jornada é realizada passo a passo. Muitas vezes compreendendo que o caminho mais difícil é o que fortalece. O bem sucedido é aquele que reconhece nos erros o verdadeiro mestre a ditar lições.



Durante anos, temos ouvido que a sorte favorece, que as oportunidades foram maiores. Mas esquecem-se do mérito, daquele ensinamento em que dizia ``tira do lixo a pena e a letra e escreve a tua história``. Avante sempre, com dedicação e labuta, para que obstáculos e dificuldades sejam transpostos. Desenhando-se assim uma tela com as tintas do sucesso.
Por fim concluímos que o sucesso é um estado, e dá-se, sobretudo, quando percebemos que o bem sucedido é tomado como exemplo. Esse é um fator que motiva sobremaneira a jornada. Ser exemplar é sem sombra de dúvida, um ingrediente fundamental para a conquista dos louros do triunfo.
Gallieus Injo, vulgo Jefferson K. Forti
Lagoa da Prata, 23 de novembro de 2018


terça-feira, 30 de outubro de 2018

Doutrinação silenciosa


Nos próximos meses nos depararemos com uma série de revelações que nos assustarão. Nossa história tem sofrido ao longo dos anos uma manipulação covarde e severa. Fomos e continuamos a ser enganados. 
Não vamos longe, retornemos ao inesquecível ano de 1989. Período onde vivenciamos a queda do muro de Berlim, a bancarrota e diluição da União Soviética. Naquele momento passamos a acreditar que o comunismo esgotava suas forças e então tornar-se-ia um resquício da história equivocada da humanidade.
Ledo engano, não percebemos que o comunismo não era um aglomerado de países, mas sim uma ideia metastática, que após o grito da revolução sangrenta, embrenhou-se silenciosamente nas mentes de muitas pessoas mundo afora. O pensamento de uma social democracia, escondia em suas entrelinhas, uma nefasta intenção de amenizar o cenário de sangue da revolução russa. Abriram as portas das universidades e escolas, formando pseudointelectuais autômatos, que iniciaram a produção em série de uma geração que perdeu-se. Envolvidos por teorias disfarçadas, embalados por discursos de ídolos nos palcos, distanciaram-se dos princípios básicos da moral e da família. Formando-se sabe lá como, sem cobranças e obrigações mínimas atendidas. Aprenderam a depredar a classe média, a mesma classe que bancou através de impostos a educação falida.
Hoje vemos nossas universidades públicas, outrora admiradas e já algumas particulares, tomadas pela ação fora da lei, terra onde os direito são garantidos somente de dentro para fora e para aqueles que integram o mesmo clã. Nossas universidades foram completamente aniquiladas por um câncer extremamente voraz. E suas metástases corroem cérebros, fígados e vidas. 
Engana-se quem acredita que nossos filhos estão preservados desse mal. O ensino médio já encontra-se contaminado e já dá passos além de nossas fronteiras protetoras. 
Nossa sociedade precisa de um remédio amargo, aquela injeção dolorosa para acabar definitivamente com essa doença, que tem transformado jovens em autômatos sem rumo. Toda uma geração usada como massa de manobra, soldadinhos usando máscaras da rebeldia, que choram a primeira derrota.
 Não se constrói um futuro sem educação verdadeira, sem muita leitura, sem conhecimento geral, sem matemática, sem geometria ou ciência. Não se ganha dinheiro sem trabalho, dedicação ou convicção. Não se atinge o cume mais alto, sem antes aos tropeços galgar as bases rochosas. Antes das conquistas, muitas derrotas serão necessárias até encontrar o caminho correto. Permanecer nesse caminho equivocado, desenhara para o futuro um cenário onde homens e mulheres dependerão de grotas e ervas do mato para sobreviverem.
O tempo urge, e uma profunda reforma se faz necessária, abarcando várias estruturas em nossa sociedade. Um grande passo foi dado sem dúvida, uma bandeira foi fincada após uma vitória. O reconhecimento de que há algo a ser melhorado é um fato. O Brasil em sua maioria, hoje clama pela mudança. Não podemos abaixar nossa guarda. O remédio amargo nos foi dado quando crianças e nem por isso sucumbimos. É chegada a hora de uma nova sessão de quimioterápicos. O amanhã precisa de nossa ação imediata!
Jefferson Kleber Forti
Belo Horizonte, 30 de outubro de 2018

quarta-feira, 23 de março de 2016

O EQUIVOCO DO LIVRE ARBÍTRIO


Nossa humanidade segue por trilhos perigosos, aliados ao apelo de polarização, vamos todos seguindo nossas crenças, esquecendo que estamos na mesma nau. A mesma, que segue por esses mares turbulentos, com a velas cheias, vento em proa, com a desculpa do livre arbítrio. Infelizmente, é nesse pressuposto de liberdade que começa nosso grande erro. Na verdade; estamos todos a deriva.
O livre arbítrio tem sido o nosso verdadeiro grilhão ao nos manter presos a nossa pretensa ideia de liberdade de escolhas. Não foi ela a propósito responsável por nossos milênios de perdições, vacilos, desencontros, quedas e recomeços? Aprendemos, mesmo teoricamente, que Deus é infinitamente bom e justo, puro amor na acepção da palavra, amor que vê em todos os caídos uma chispa de esperança. Não aprendemos que nenhuma criatura se perderia? E Ele mantêm-se esperando cada um ao seu tempo de regresso ao seio paternal? Falar sobre Deus nesse momento evolutivo, é quase como cair no vazio, frente a nossa total incapacidade de compreendê-lo, tamanha nossa pequenez e insanidade de filhos errantes. Mesmo assim tentamos!
O Mundo já viveu momentos angustiantes, onde nossos maiores pesadelos tinham como cenário de fundo uma hecatombe nuclear. Naqueles dias a mesma polarização nos dividia enquanto irmãos de uma mesma morada. Os ânimos apaziguaram durante anos e o medo dilui-se frente alguns passos positivos. Contudo, seguimos, e como que por encanto esquecemos dessas terríveis imagens. Nem por isso a divisão deixou de existir, pois nossas crenças, certas ou erradas, nos fizeram crer que somos melhores ou piores do que os outros, que nosso “deus” é o único verdadeiro, que nosso céu é melhor daquele arrastando-se na sarjeta. O livre direito de escolha nos fez acreditar que “meu deus”, me entenderá como maior pelo simples ato de devotamento, ao detonar uma bomba presa ao corpo. Aniquilar o ‘inimigo” em nome do “criador”, avalizaria meu direito a posse de um paraíso inimaginável. Quanta ilusão por nossas crenças de liberdade ludibriada. Assim vamos nos perdendo, mantendo-nos presos as ideais e preconceitos obscuros e falseados. Perde-mo-nos, todas as vezes que nos colocamos como melhores, uma raça especial aos olhos de Deus, Àquele que nos Criou como sua imagem e semelhança.
Deus não pode viver na imagem do aniquilamento, da violência, da morte infringida sem sem nenhum propósito. Por isso, vamos compreendendo que o livre arbítrio nos distancia cada vez mais do propósito divino. Este planeta que nos recebeu, passa por momentos difíceis, não precisamos ser sensitivos, para percebermos que uma nuvem triste, procura obscurecer aquela luz que aviva nossa alma. Não estamos perdidos ainda, há sempre uma luz acesa iluminando o caminho daqueles que querem realmente liberta-se desses pesados grilhões de mentiras e crenças de ilusão.





O livre arbítrio tem sido nossa grande armadilha, chegada é a hora de entendermos integralmente que há um único caminho a ser seguido, onde o Determinismo do Amor, do Soberanamente Bom e Justo irá sobrepor-se a nossa pretensa liberdade falida.
Gallieus Injo
Vulgo Jefferson Kleber Forti






Belo Horizonte, 23 de março de 2016

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

INSTRUMENTO DE CURA




Toda ação pressupõe uma reação, não existe efeito sem causa, isso tudo é fato, Lei natural, uma Lei de Deus. Não há, aos olhos do Divino criador, soberanamente bom e justo, algo que ocorra sem um propósito. A doença tem uma finalidade, um objetivo, um mecanismo que por hora ainda não compreendemos em sua totalidade; o de fortalecer o espírito e curá-lo verdadeiramente.

Chagas sobre o corpo, células cancerígenas crescendo sem um mecanismo de limitação, gangrena extirpando membros, novos vírus causando terror e medo, situações que nos parecem contraditórias frente aos avanços grandiosos da medicina. Mal debelamos algumas doenças do plano terrestre e logo surgem outras. Novas medicações prometem a cura de determinadas patologias, maquiando efeitos colaterais que provocam outras, muitas vezes mais debilitantes. É muito claro quando interrompemos o ciclo de uma doença e ela se manifesta de outra forma, com outra denominação e mudamos o seu nome. Nos chocamos ao ver um corpo debilitado, consumido por algo que muitas vezes foge ao nosso controle. Na verdade não temos este controle, desta forma onde ele está? Qual o objetivo da doença? Por que não conseguimos acabar com certas patologias teoricamente simples, frente aos avanços tecnológicos, que evoluiu mais nos últimos cem anos, do que em toda nossa existência na Terra?

Sem o propósito de parecer conformista. A doença que afeta o corpo tem um propósito, e este propósito nos parece muito claro quando reconhecemos neste remédio, algo de benéfico para nossos espíritos imortais. Neste momento transitório no qual o planeta está inserido, as provas e expiações dão lugar a um tempo de regeneração, assim, há muito para refletirmos. Nós, entidades espirituais, encarnados neste planeta, estamos doentes, e este estado momentâneo de doença é algo passageiro. O Pai não nos criou doentes, pois sua obra é perfeita, e esta perfeição é um estado a ser reconquistado. Estamos doentes e esta condição é conseqüência de nossos atos, geralmente agressivos contra nós mesmos. Nossos corpos, portanto, nestes anos e anos de evolução, possui a grandiosa importância de ser o instrumento sanador do espírito doente. Compreender que nosso estado momentâneo de dor; reação, é fruto de algo inconseqüente e impensado; ação. Nos faz repensar muitas coisas, tudo o que colhemos é fruto de algo relacionado ao nosso passado. Desta forma outra reflexão nos parece plausível. Ao teoricamente curarmos uma chaga, retirando do corpo um instrumento de tratamento para o espírito, não estaremos protelando a verdadeira cura para o futuro? E talvez algo ainda pior, agravando ainda mais o problema? É óbvio que como médicos, temos um papel a cumprir, não de curadores, pois isto é muito claro, nós não curamos ninguém, somos apenas um instrumento que se bem utilizado, pode favorecer a compreensão do verdadeiro papel da doença. Outra questão importante é o papel do mérito que cada um possui e da doação integral que depositamos sobre o assistido, objetivando sua cura.

Quando a mulher hemorrágica (Marcos, 5: 25 a 34) compreendeu que ela poderia se curar, após doze anos de intensa polimenorréia e anemia, simplesmente tocando a túnica do Mestre Jesus. Ela rompeu a multidão e foi até ele, curou-se, ou melhor; salvou-se, pois acreditou que aquilo seria possível. Buscou a cura ou a salvação, rompeu barreiras para conquistá-la, moveu-se, desbravou, seguiu determinada o seu objetivo e o alcançou.

Jesus ao convocar seus discípulos para curarem os enfermos, ressuscitarem os mortos, limparem os leprosos (Mateus 10:78; Lucas 9:1), mostrou-lhes que movidos pelo amor ao próximo e o desejo de fazer o bem, poderiam ser instrumentos benéficos neste processo. Ele que percorria todas as cidades e aldeias ensinado sobre a cura e demonstrando que ela podia ocorrer. Mostrou a todos o poder do amor incondicional e que todo aquele que o desejar pode ser um instrumento, promovendo a salvação como conseqüência maior do processo.

A cura, no entanto, não depende exclusivamente do instrumento e sim da vontade do doente em entregar-se a sua luta, rompendo todos os obstáculos até chegar à túnica, ao instrumento, ao Salvador, ao Mestre. Nenhum dos curados pelo Rabi e seus apóstolos ficaram a esperar simplesmente que o milagre ocorresse, até porque, fundamentados na fé raciocinada, sabemos que os milagres não acontecem. Todos os doentes de alguma forma movimentaram-se e este movimento não pressupôs necessariamente um processo físico, sobretudo, implicou em agitação íntima, de ir ao encontro, de sair da condição de inércia e modificar-se.

Curar-se, portanto, pressupõe trabalho, mudança de foco, caminhada árdua. Não há dúvida de que se os milagres fossem possíveis, o Mestre Nazareno, movido por seu grande amor por todos nós, nos curaria a todos. Contudo, este não é o mecanismo. A cura depende de nós, não do desejo de Deus ou do Doce Rabi. Depende do nosso trabalho, da nossa dedicação, de nossa fé e obviamente da permissão do mais alto. Não importa se nosso corpo está debilitado e ferido, o que verdadeiramente tem significado, é quão salutar é a importância da chaga que fere as entranhas para o fortalecimento do espírito. A cura depende disso, rompamos a multidão e toquemos na túnica abençoada, adentremos pelos telhados, sigamos firmes, determinados, buscando o verdadeiro instrumento capaz de sanar nossas úlceras. A cura, portanto, está sujeita ao movimento íntimo, a iniciativa de ir ao seu encontro, abraçando-a, reconquistando-a, tomando para si, aquilo que perdemos ao deixarmos a morada onde éramos saudáveis; a casa do Pai.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Homem, anjo de asas partidas


Homem, anjo de asas partidas
Envolto pelo agradável som das ondas quebrando nas rochas. Deixou-se levar pela música do momento, viu-se só, porém não se sentiu só. Uma tela abriu-se diante de seus olhos. Viu suas asas partidas nos primórdios do tempo não permitindo mais vôos distantes. Teria que caminhar, voltando no tempo de sua história primitiva. Deixou o majestoso aconchego do berço paternal, deixou-se arrebatar por sua liberdade, por seu livre arbítrio de decidir. E decidiu; trilhou caminhos tortuosos, deixou-se levar pelo mal, pelo egoísmo, por más tendências de um filho pródigo deveras ingrato, muito antes fosse na verdade uma criança ainda. Viu todo um Universo relativo ser criado para que pudesse crescer reconhecendo-se em seus erros, sobretudo, aprendendo com eles. Viu-se preso nos laços do tempo, nascendo, crescendo, morrendo e renascendo. Questionou tantas vezes sobre o sofrimento, mas tantas vezes fizera sofrer. Questionou os céus, o Criador, vendo seus filhos morrerem, no entanto, quantos outros também não matou?
No vai e vem das ondas, a lua iluminando as pequenas borbulhas refletidas no ar, viu-se ali, pequeno; pequeno. Tentou abrir a portas trancafiadas de sua mente, buscando encontrar-se, procurando as chaves, procurando o segredo, em vão. Tão pequeno, estava só, porém, não se sentia só. Uma mão acariciava sua face, tocando sua mente, tocando sua alma caída. Anjo de asas partidas, legado a masmorra de pensamentos confusos. Lágrimas sufocaram-lhe, embargando-lhe a voz, percebendo que sua liberdade, não passava de uma prisão. Seu verdugo movido pelo orgulho e egoísmo tratou de arrebatar-lhe a fé. Viu-se no centro de tudo. Tendo como criador a sua imagem e semelhança. Foi banido, não uma vez, porém algumas centenas de vezes. Pois, cria-se maior que o soberano. Apedrejou, aviltou, transgrediu, jamais se dando por vencido. Da caça se fez caçador, apedrejou e cumprindo-se a Lei, foi também apedrejado. Quantas vezes foi tocado por algo maior, não sabendo explicar? Quantas vezes viu pegadas demarcando-lhe a jornada, contudo não as seguiu. Teve em sua proximidade um exemplo maior, porém não se permitiu enxergar. E novamente seguiu como algoz de si mesmo. Mantendo-se cego, desperto na escuridão.
Mil anos de tortura queimando-lhe a alma enlanguescida. Sua Terra já não era mais o centro, assim como ele não estava mais no centro de nada. Tão pouco seu Sol, e uma galáxia inteira. Sua fé fora forjada no terror, nos propósitos dos homens maiores do que Deus. Viu queimarem-se páginas e pessoas vivas, muitas vezes atiçando-lhes a primeira chama. Mas pequeno ainda era, pois ainda tinha que se arrastar em meio a corpos e dores. Pudera vislumbrar as estrelas além das cúpulas de sua crença falida.
Ondas tocavam-lhe os pés cansados. Deixando-se dominar por aquele balouçar das águas, na música a sublimar os melhores pensamentos. Permitiu-se tocar sem medo, permitiu-se ser guiado. Não havia mais sentido folhar páginas tão tristes, o esquecimento tinha um sentido maior, remédio salutar para sua alma. Importante era seguir adiante dos próprios passos, buscando arrebanhar o que havia de melhor. Percebendo então todo o educandário de sua dor, As vendas caiam de seus olhos e a luz outrora turvada pela sua consciência mostrava-se suntuosa. Via todo um horizonte além de seu Universo limitado. Sentiu-se presente no amor, amparado por ele. Levantou-se, pois não podia ficar mais parado, deveria seguir aquela trilha, antes das ondas às apagarem, Seguiu a luz, saindo da escuridão. Sentiu-se tomado pelo amor, acalentado pelo amor, fortalecido pelo amor. Adiante uma multidão dirigiu-se a ele saturados pelo reconhecimento do amor e perdão. Não podendo conter-se; chorou, chorou como uma criança sedenta por leite. Abraçou e deixou-se abraçar, por todos os perseguidos, por todos os perseguidores, por todos os irmãos de sua única irmandade. Desfazia-se diante dele o tempo, o espaço, e o medo de estar definitivamente só.
Gallieus Injo
Vulgo Jefferson
Belo Horizonte, 31/01/2008